[Tradução] Dados revelam informações chocantes sobre patinação no gelo nas Olimpíadas

segunda-feira, 2 de abril de 2018
Olá, tudo bem?

Hoje vamos publicar um interessante artigo sobre um tema polêmico da patinação: a pontuação. O link original está aqui.


Sotnikova e a juíza russa durante as Olimpíadas de Sochi

Dados revelam informações chocantes sobre patinação no gelo nas Olimpíadas


Nas Olimpíadas de Sochi, em 2014, a patinadora russa Adelina Sotnikova ganhou a medalha de ouro. A antiga campeã, Yuna Kim, da Coreia do Sul, era a grande favorita a repetir o triunfo de quatro anos antes, e liderava após o programa curto.
Mas Sotnikova venceu após receber as maiores notas de sua carreira - e saiu do gelo para os braços de uma juíza russa. Com o abraço da russa, que era casada com o líder da federação de patinação da Rússia e foi um dos dois juízes russos que garantiram o ouro para Sotnikova, ganharam força os pedidos por investigação.

"Nosso queixo caiu", disse a patinadora americana Simon Shnapir, que assistia o evento junto com outros competidores, "mas ao mesmo tempo, todos nós sabemos como a patinação funciona... ou você lida com isso ou não."

Por fim, a International Skating Union, o órgão que administra o esporte, rejeitou as reclamações da federação da Coreia do Sul e manteve o ouro de Sotnikova. Com as Olimpíadas de 2018 na Coreia do Sul começando nessa semana, algumas pessoas próximas ao esporte dizem que estão preocupadas com um novo escândalo, pois acreditam que o sistema é enviesado e não foi feito o suficiente para conserta-lo.

 "Imagine o público assistindo futebol americano, um time faz um touchdown e não recebe pontos por isso", diz Chloe Katz, antiga patinadora profissional, que foi medalhista em competições dentro dos EUA e internacionais. "Acho que é o que vem acontecendo agora na patinação."

Um dos esportes mais populares das Olimpíadas de Inverno, a patinação vem sofrendo com controvérsias há muito tempo. A causa é o sistema de julgamento, dizem os críticos. A patinação permite grandes brechas para pontuação enviesada que não existem em outros esportes olímpicos.

Talvez a mais importante delas seja que as federações nacionais, e não o órgão internacional, que escolhem quais juízes vão ser enviados para as competições - e os juízes podem avaliar atletas de seus próprios países.

"Na minha opinião, isso é um claro conflito de interesses", disse a italiana Sonia Bianchetti, que foi juíza de patinação em sete Olimpíadas, "mas as regras não proíbem."

Além disso, quem for punido por trapaça pode recuperar sua elegibilidade como juiz. Aqueles que possuem posições de liderança nas associações nacionais também são elegíveis. A NBC News descobriu que de um total de 164 juízes elegíveis para o evento de patinação de PyeongChang, havia:

  •  33 juízes - aproximadamente um quinto do total - tinham posições de liderança em suas federações nacionais;
  • Um juiz italiano recebeu sanção por espiar as notas de outro juiz em 2010;
  • Um juiz italiano foi punido por violações duas vezes, uma por sinalizar a sua ordem de classificação para outro juiz batendo com o pé, e outra vez por conversar com outro juiz em russo;
  • A juíza que abraçou Sotnikova em Sochi;
  • Uma juíza coreana que disse a um jornal que asseguraria que patinadores de seu país, como Yuna Kim, não seriam prejudicados;

Todos eles podem julgar patinadores de seus próprios países, e há evidências estatísticas de que eles podem inflar a nota de seus compatriotas.  


Viés: o que os números mostram


O professor de economia de Dartmouth Eric Zitzewitz vem estudando as pontuações das competições internacionais de patinação há 15 anos e disse que encontrou um viés mensurável e consistente. Os dados no estudo que Zitzewitz publicou em 2006 e 2014 mostrou que os juízes de todos os países, incluindo os EUA, tem sido propensos a favorecer seus conterrâneos. Sob o atual código de pontuação, no qual um competidor principal de um evento de elite como as Olimpíadas podem chegar a uma pontuação tão grande quanto 225, Zitzewitz descobriu que em 2016 e 2017 os juízes adicionaram uma média de três pontos à pontuação acumulada de seus compatriotas.

Então, os juízes de algum país são especialmente  tendenciosos? "Eu descobri que países com a fama de serem mais corruptos em outros campos acabam sendo mais tendenciosos no julgamento dos patinadores", disse  Zitzewitz. "Vou parecer um pouco partidário enquanto americano, mas se você começar pela América e for mais para leste a tendência nacionalistas parece aumentar", ele disse.

Zitzewitz começou a estudar a patinação artística após o escândalo de 2002 nas Olimpíadas de Salt Lake City, que abalou o esporte. A máfia russa foi acusada de determinar a vitória do par russo, em detrimento dos canadenses, apesar do desempenho superior destes. Uma juíza francesa e o líder da federação francesa de patinação foram suspensos por 3 anos pela participação deles no esquema. Os canadenses também receberam a medalha de ouro.

A International Skating Union mudou o sistema de pontuação após Salt Lake, tornando-o mais complicado e supostamente difícil de burlar. Uma das regras forçava os juízes ao anonimato nas avaliações. O órgão internacional que administra o esporte acreditou que isso deteria o voto nacionalista, pois as federações não seriam capazes de ver em quem os juízes votaram e eles seriam livres da pressão.

Entretanto, de acordo com Zietzewitz os dados entre 2003 e 2009 mostraram que não houve mudanças no viés nacionalista da pontuação.

Fonte


Chloe Katz, que patinou nas competições antes e depois das regras mudarem, não acha que a mudança ajudou. "Eu acho que existem novas formas de parcialidade  que se manifestam nesse novo sistema", ela disse. Quando solicitada a comentar sobre a descoberta de Zitzewitz, a ISU disse que tem uma Comissão Oficial de Avaliação cujo "papel é avaliar anomalias na pontuação dos juízes e decisões tomadas pelo painel técnico."

Um ano e meio atrás, a ISU modificou novamente as regras, incluindo a reversão da decisão sobre o anonimato, em 2002. Os espectadores das Olimpíadas de PyeongChang saberão quais juízes deram cada nota.

"Eu acho que é provável que os juízes se sintam mais responsáveis", disse Zitzewitz. "Vai permitir que (os comentaristas) falem sobre a pontuação que veio de cada juiz particular de uma rotina particular", ele disse. "Se alguns dos juízes são discrepantes, isso vai permitir que se fale sobre eles e sobre porque deram essas notas. E eu acho que isso vai mudar o cálculo para um juiz que está pensando em ser parcial ou pensando em fazer um acordo com outro país,"

Porém, ele pensa que "certamente você verá juízes dando notas ligeiramente maiores para os competidores do mesmo país."

No seu comunicado, a ISU disse para a NBC News que tem um procedimento robusto para monitorar os juízes, incluindo penalidades para pontuação excessiva dos atletas. "O cancelamento do anonimato torna possível rastrear não só a qualidade do julgamento", diz a ISU, "mas também a parcialidade. Juízes que cometem erros ou dão notas excessivas para patinadores recebem uma advertência e podem ser penalizados pela ISU." Eles disseram que a "prioridade é garantir um resultado justo" durante os Jogos de PyeongChang.

A ISU respondeu as questões sobre oficiais das federações nacionais servirem como juízes e juízes darem notas para atletas de seus países apontando para as regras da constituição da ISU.

Perguntados especificamente sobre a pontuação de Sotnikova em Sochi, a ISU apontou que as queixas sobre o caso da juíza que abraçou a russa foram indeferidas.

A juíza afirmou para a ISU que em 2014 ela não foi a primeira ou a única pessoa que Sotnikova abraçou depois de vencer: "ela estava muito entusiasmada e estava abraçando todo mundo que conhecia."

Um porta-voz da federação de patinação dos EUA falou para a NBC News que o presidente da organização, Sam Auxier, recusou ser juiz em PyeongChang. "As regras da ISU permitem que o líder da federação julgue eventos", disse o porta-voz, Barbara Reichert. "Entretanto, para evitar conflito de interesses, Sam Auxier voluntariamente se desligou de qualquer competição sênior da ISU, das Olimpíadas de 2018 e do campeonato americano durante seu período de 4 anos de presidência da federação americana." Auxier, que é presidente desde 2014, julgou eventos menores - e patinadores americanos - durante sua presidência. Ele julgou nas Olimpíadas de Sochi em 2014 enquanto era vice-presidente da federação americana.


Enxergando além de PyeongChang


O que mais pode ser feito para melhorar o método de julgamento? Algumas sugestões de observadores são:

  • Proibir juízes de julgarem patinadores de seus países
  • Proibir participação de oficiais das federações nacionais como juízes
  • Deixar que a ISU escolha juízes baseada no mérito, em vez de permitir que os países decidam quem mandam para as Olimpíadas
  • Impedir que juízes punidos retornem ao esporte. Atualmente, um juiz punido por fraude pode retornar ao rol de juízes elegíveis para as Olimpíadas em poucos anos.
  • Profissionalizar os juízes. A maioria deles é de voluntários gratuitos.
A ISU  não respondeu o pedido para comentar sobre as propostas. "Nós trabalhamos a nossa vida inteira por isso," Katz, uma antiga competidora disse. "Você desiste de tanta coisa, e você espera que os juízes sejam justos."

Ucrânia, Coreia do Sul e Rússia não responderam os pedidos de comentário, e nem os juízes italianos e russos que foram punidos; e nem a juíza sul coreana disse que disse que os patinadores de seu país não seriam prejudicados; ou então a juíza russa que abraçou Sotnikova. A federação canadense, Skate Canada, disse que "respeita completamente e apoia as regulamentações da ISU em relação ao treinamento, escolha e elegibilidade dos oficiais em todas as disciplinas. Todos os oficiais que chegam a esse nível são fortemente treinados e escrutinados. Qualquer questão relativa  à elegibilidade dos oficiais nas Olimpíadas devem ser direcionadas para a ISU."

A federação japonesa disse que sua diretora, Yoshiko Kobayashi, está participando no mínimo de competições para "manter o requisitado pela ISU para a posição de juiz, que é uma vez a cada três anos." Ela não está julgando campeonatos "para evitar conflitos de interesses e para assegurar a justiça para os patinadores e o esporte."





O que vocês acham que deveria ser feito para melhorar este sistema?

Tenham uma ótima semana!

4 comentários :

  1. tá parecendo Brasil na patinação artistica sobre rodas, BRASIIIIILLLLL !!!

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    1. Não sabia que tinha esses problemas na patinação sobre rodas também :O

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  2. Meu objetivo é ser patinadora artística não só por lazer, mas profissionalmente também. Fico muito triste de saber que existem tantas suspeitas de irregularidades nesse meio, sei que a corrupção está em todo lugar mas...mesmo assim ainda é desanimador, sei que não devo criar espectativas sobre isso afinal minhas chances de ingressar na paginação são quase nulas mas eu sinto uma imensa vontade de representar o Brasil, ainda mais sendo uma legítima brasileira, desculpe se me empolguei 😊

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    1. Fico feliz em ver alguém que quer patinar não só como amadora, mas também como profissional. Não desanime por causa disso. Como diz o artigo, as coisas já melhoraram e acredito que vão continuar melhorando. Se você realmente gosta de patinar, continue em frente.

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